São Paulo em carioquês e paulistês

Papo reto, mano: São Paulo é responsa, principalmente nos fins-de-semana ou feriados, tá ligado? É uma cidade onde todo mundo é meu chapa. Têm uns parceiros, inclusive, que vivem mandando o léro de que todo brasileiro que presta devia ter nascido em Sampa, porque quem se coloca naquela parada de praia, matte leão, biscoito globo, samba no pé e frescobol é marginal. Mas deixa eu trocar uma ideia contigo: é certo gostar da vibe de São Paulo em um sete de setembro ou corpus christi, quando a cidade está vazia, sem o inferno dos dias de trampo porque quase todos os moradores zarparam pruma praia no Rio ou pegaram um buzão pro Guarujá. É certo, mano, gostar de São Paulo indo a museus, curtindo um cine, batendo uma chepa num restaurante da hora ou catando uns mano e umas mina naquela balada que ferve. É nóis!

Ihhhh, muléque, se liga! Experimenta tentar dar um rolé com a rapêize e se amarrar em São Paulo em dias normais? Coé, na moral… Imagina você e seus bróder, na segunda-feira depois daquela night que tu se acabô, numa fila gigantesca de um muquifo a quilo que tem doze mulezinhas-filé no caixa só pra atender à demanda da Paulista? Bando de vacilão… Ou, caraca, na hora do rush de uma sexta, dando bobeira dentro do seu carro irado na Marginal Tietê? Sinistro… Tu lembra, porra, quando no mês de dezembro os paulistanos sem noção faziam mó muvuca em frente ao Banco Real da Paulista só pra ver aquele lance de uns bonequinhos gigantes nada a ver da “fábrica de brinquedos do Papai Noel”? Cambada de péla-saco, no Rio tem disso não! E tem aquela coisa, né, mermão? Ninguém em sã consciência vai achar aquela cidade do caralho porque é bonita né? São Paulo é maneira, tem paulistano que é sangue bom, tem uns predinhos velhos e bonitinhos no Centro, mas não dispiroca: se tu subir no alto dum prédio, tu só vê mais um monte de prédio!

Puta, meu! Tá me tirando? São Paulo é do caralho! Assiste aí esse vídeo da tevê que mostra toda a belezura que é São Paulo! Deu pra fazê umas cenas de balada, da luz dos faróis nas ruas, deu pra mostrar as lojas e as feirinhas, o minhocão. Tem uma mina que fica cantando sobre a diversidade e a nobreza dessa cidade… Fiquei emocionado, acho que vou cantar: “Alguma coisa acontece no meeeeeu coração, e só quando eu cruzo a Ipiranga”…

Ih, o cara, aí… Tá alucicrazy! Não há nada mais uó do que essas propagandas turísticas de São Paulo que tentam deixar ela maneiríssima. E essa mulezinha que canta? Ela vai num crescendo, num monte de agudos, aí vai crescendo, crescendo e de repente dá um faniquito e grita: SÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO PAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAULO! Posso falar? Acho que ela gozô!  Agora vem cá, nem te conto: me explica essa propaganda sem noção com… o Rei Pelé… CANTANDO? 

 

Não vou comentar, só depois de um chops e uns pastel!

Iaaaaaaaaai! Perdeu, playboy! Partiu!

Sobre Leo Name

Professor do Departamento de Geografia da PUC-Rio.

Um Comentário

  1. Daniel Brum

    Não esqueço de vc se perguntando durante o vídeo “q cidade bonita deve ser essa?” até a mina gritar “SAAAAAO PAAAAAAAAAAAAAAAULOOOO…”. Deve ser muito difícil fazer um vídeo turístico mostrando as ‘belezas’ da cidade sem abusar de efeitos de câmera e closes. Claro q, sendo um vídeo bem “Jardins”, tb deixaram muita coisa bonita porém ‘diferenciada’ de fora. Achei engraçado o típico nativo de classe média andando com o pãozinho debaixo do braço em frente ao prédio q deve ser no Centro. Como assim? Esse povo nunca pisa no centro e se for à padaria é de carro! É como dizem por aí: “O melhor lado de SP é o lado de dentro.” OU seja, restaurantes, eventos, baladas, compras etc. Basicamente, consumo. As ruas são só o acesso.

    • Quando voltar a SP quero fazer com você de novo aquele passeio a pé no Centro e comer naquele restaurante grego caríssimo. Isso é legal e não aparece no vídeo.

  2. Alexandre Datilo

    Leo, apesar de um post bem humorado, esta visão bairrista e maniqueísta entre São Paulo e Rio é muito século XX. Apenas como exemplo, estas gírias estereotipadas de “paulistano” são válidas apenas para paulistanos do bairro da Móoca (um pequeníssimo bairro da Zona Leste) e estes habitantes da Móoca não representam nem 1% da população de SP. Como o sotaque e as palavras são marcantes ficou caracterizado como o “sotaque de São Paulo”. Super clichê.
    O Rio indiscutivelmente é uma cidade natural mais bonita que São Paulo e eu como bom brasileiro, adoro ter duas metrópoles maravilhosas e tão diferentes a poucas horas uma da outra. Tanto o Rio como São Paulo pertencem a todos os brasileiros. Do ponto de vista turístico (sou profissional desta área) a infra-estrutura turística de São Paulo, em especial os serviços são pontos de excelência no Brasil. O restaurante D.O.M., por exemplo, acaba de ser novamente classificado como um dos melhores restaurantes do mundo (6ª posição). O SPCVB é uma entidade super séria e apesar de você não gostar dos comerciais (que não são governamentais) tem revertido em resultados financeiros (ROI) sólidos para a cidade. Quem é da área sabe que a infra-estrutura do Rio (em especial a hotelaria) não se modernizou, não acompanhou o crescimento do Brasil e não dá conta da demanda nem do mercado interno, quanto mais do mercado internacional. Você não percebe isto porque obviamente não precisa se hospedar em sua própria cidade.
    A beleza indiscutível do Rio talvez entorpeça os próprios cariocas a não aprimorar os serviços da linda cidade que eles receberam praticamente pronta das mãos da Mãe Natureza.

    • Datilo, acredite: eu adoro São Paulo! O carioca do diálogo acima não sou eu! O texto quer justamente usar os clichês bairristas. Afinal, o paulista também fala mal do Rio, acima.

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